A INVENÇÃO DA LOCOMOTIVA
A Revolução Industrial, que se processou na Europa e
principalmente na Inglaterra a partir do século XIX, surgiu quando os meios de
produção, até então dispersos em pequenas manufaturas, foram concentrados em
grandes fábricas, como decorrência do emprego da máquina na produção de
mercadorias. Numerosos inventos, surgidos no século anterior, permitiram esse
surto de progresso. Entre eles, destacam-se a invenção do tear mecânico por
Edmund Cartwright, em 1785, revolucionando a fabricação de tecidos, e a máquina
a vapor por James Watt, aperfeiçoando a descoberta de Newcomen, em 1705.
O aumento do volume da produção de mercadorias e a
necessidade de transportá-las, com rapidez, para os mercados consumidores,
fizeram com que os empresários ingleses dessem apoio a George Stephenson
(1781-1848), que apresentou sua primeira locomotiva em 1814.Foi o primeiro que
obteve resultados concretos com a construção de locomotivas, dando início à era
das ferrovias.
Stephenson, engenheiro inglês, construiu a “Locomotion”,
que, em 1825, tracionou uma composição ferroviária trafegando entre Stockton e
Darlington, num percurso de 15 quilômetros, a uma velocidade próxima dos 20
quilômetros horários. Em associação com seu filho, Robert Stephenson, fundou a
primeira fábrica de locomotivas do mundo. Foi ele considerado, então, o
inventor da locomotiva a vapor e construtor da primeira estrada de ferro.
Ao iniciar-se a segunda metade do século XIX, a invenção de
Stephenson já se desenvolvia na Europa e na América do Norte. Pelo menos 3.000
quilômetros de via férrea estendia-se no Velho Continente e 5.000 nos Estados
Unidos.
OS INCENTIVOS DO GOVERNO IMPERIAL
Não tardou muito para que estas questões relacionadas à
invenção da locomotiva e à construção de estradas de ferro, fossem conhecidas
no Brasil. Pode-se dizer que as primeiras iniciativas nacionais, relativas à
construção de ferrovias remontam ao ano de 1828, quando o Governo Imperial
autorizou por Carta de Lei a construção e exploração de estradas em geral. O
propósito era a interligação das diversas regiões do País.
No que se refere especificamente à construção de ferrovias
no Brasil, o Governo Imperial consubstanciou na Lei n.º 101, de 31 de outubro
de 1835, a concessão, com privilégio pelo prazo de 40 anos, às empresas que se
propusessem a construir estradas de ferro, interligando o Rio de Janeiro, São
Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia. O incentivo não despertou o
interesse desejado pois as perspectivas de lucro não foram consideradas
suficientes para atrair investimentos.
É importante destacar que, até a chegada das ferrovias no
Brasil, o transporte terrestre de mercadorias se processava no lombo dos burros
em estradas carroçáveis. Naquela época, os portos fluminenses de Parati e Angra
dos Reis exportavam cerca de 100 mil sacas de café, provenientes do Vale do
Paraíba. Em São Paulo, anualmente, chegavam ao porto de Santos cerca de 200 mil
bestas carregadas com café e outros produtos agrícolas.
Em 26 de julho de 1852, o Governo promulgou a Lei n.º 641,
na qual vantagens do tipo isenções e garantia de juros sobre o capital
investido, foram prometidas às empresas nacionais ou estrangeiras que se
interessassem em construir e explorar estradas de ferro em qualquer parte do
País.
A PRIMEIRA FERROVIA DO BRASIL
O grande empreendedor brasileiro, Irineu Evangelista de
Souza, (1813-1889), mais tarde Barão de Mauá, recebeu em 1852, a concessão do
Governo Imperial para a construção e exploração de uma linha férrea, no Rio de
Janeiro, entre o Porto de Estrela, situado ao fundo da Baía da Guanabara e a
localidade de Raiz da Serra, em direção à cidade de Petrópolis.
O Barão de Mauá, patrono do Ministério dos Transportes,
nasceu de família humilde, em Arroio Grande, Rio Grande do Sul. Em 1845, à
frente de ousado empreendimento construiu os estaleiros da Companhia Ponta de
Areia, em Niterói, iniciando a indústria naval brasileira. Em 11 anos, o
estabelecimento fabricou 72 navios a vapor e a vela. Entusiasta dos meios de
transporte, especialmente das ferrovias, a ele se devem os primeiros trilhos
lançados em terra brasileira e a primeira locomotiva denominada “ Baroneza”. A
primeira seção, de 14,5 km e bitola de 1,68m, foi inaugurada por D. Pedro II,
no dia 30 de abril de 1854. A estação de onde partiu a composição inaugural
receberia mais tarde o nome de Barão de Mauá.
A Estrada de Ferro Mauá, permitiu a integração das
modalidades de transporte aquaviário e ferroviário, introduzindo a primeira
operação intermodal do Brasil. Nesta condição, as embarcações faziam o trajeto
inicial da Praça XV indo até ao fundo da Baía de Guanabara, no Porto de
Estrela, e daí, o trem se encarregava do transporte terrestre até a Raiz da
Serra, próximo a Petrópolis. A empresa de Mauá, que operava este serviço,
denominava-se “Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro
Petrópolis”.
A locomotiva “Baroneza”, utilizada para tracionar a
composição que inaugurou a Estrada de Ferro Mauá, continuou prestando seus
serviços ao longo do tempo e foi retirada de circulação após 30 anos de uso.
Foi a primeira locomotiva a vapor a circular no Brasil e transformada,
posteriormente, em monumento cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. Esta locomotiva, por seu importante papel, como pioneira,
constitui pedaço da história do ferroviarismo brasileiro. Foi construída em
1852 por Willian Fair Bairns & Sons, em Manchester, Inglaterra, fazendo,
atualmente, parte do acervo do Centro de Preservação da História Ferroviária,
situado no bairro de Engenho de Dentro, na cidade do Rio de Janeiro.
FERROVIAS HISTÓRICAS
Após a inauguração da Estrada de Ferro Mauá, sucederam-se as
seguintes ferrovias, todas em bitola de 1,60m:
Ferrovia
Data de Inauguração
Recife ao São Francisco
08/02/1858
D. Pedro II
29/03/1858
Bahia ao São Francisco
28/06/1860
Santos a Jundiaí
16/02/1867
Companhia Paulista
11/08/1872
A segunda ferrovia inaugurada no Brasil foi a Recife-São
Francisco, no dia 8 de fevereiro de 1858, quando correu o primeiro tem até a
vila do Cabo, em Pernambuco. Esta ferrovia, apesar de não ter atingido a sua finalidade
– o rio São Francisco – ajudou a criar e desenvolver as cidades por onde
passava e constituiu o primeiro tronco da futura “Great Western”.
A Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II, foi inaugurada em
29 de março de 1858, com trecho inicial de 47,21 km, da Estação da Corte a
Queimados, no Rio de Janeiro. Esta ferrovia se constituiu em uma das mais
importantes obras da engenharia ferroviária do País, na ultrapassagem dos 412
metros de altura da Serra do Mar, com a realização de colossais cortes, aterros
e perfurações de túneis, entre os quais, o Túnel Grande com 2.236 m de
extensão, na época, o maior do Brasil, aberto em 1864.
A Estrada de Ferro D. Pedro II, através do trabalho dinâmico
de seus operários e técnicos, transformou-se, mais tarde (1889) na Estrada de
Ferro Central do Brasil, um dos principais eixos de desenvolvimento do país.
Um dos fatos mais importantes na história do desenvolvimento
da ferrovia no Brasil foi a ligação Rio-São Paulo, unindo as duas mais
importantes cidades do país, no dia 8 de julho de 1877, quando os trilhos da
Estrada de Ferro São Paulo (inaugurada em 1867) se uniram com os da E.F. D.
Pedro II.
A política de incentivos à construção de ferrovias, adotada
pelo Governo Imperial, trouxe algumas conseqüências ao sistema ferroviário do
país, que perduram até hoje, tais como:
Grande diversidade de bitolas que vem dificultando a
integração operacional entre as ferrovias;
Traçados das estradas de ferro excessivamente sinuosos e
extensos;
Estradas de ferro localizadas no país de forma dispersa e
isolada.
Até o final do século XIX, outras concessões foram
outorgadas, na bitola métrica, destacando-se as seguintes:
Ferrovia
Data de Inauguração
Companhia Mogiana
03/05/1875
Companhia Sorocabana
10/07/1875
Central da Bahia
02/02/1876
Santo Amaro
02/12/1880
Paranaguá a Curitiba
19/12/1883
Porto Alegre a Novo Hamburgo
14/04/1884
Dona Tereza Cristina
04/09/1884
Corcovado
09/10/1884
Entre as bitolas menores, vale citar a Oeste de Minas , cujo
primeiro trecho, de Sítio (hoje Antônio Carlos) a São João-Del-Rey, foi aberto
a 28/08/1881, com a bitola de 0,76 m. Dentre as ferrovias citadas, salienta-se
a implantação da Paranaguá – Curitiba, que se constituiu um marco de excelência
da engenharia ferroviária brasileira, considerado, à época, por muitos técnicos
europeus, como irrealizável. A sua construção durou menos de 5 anos, apesar das
dificuldades enfrentadas nos seus 110 km de extensão.Em 17 de novembro de 1883
foi inaugurado para tráfeo regular o trecho Paranaguá-Morretes. Esta ferrovia
possui 420 obras de arte, incluindo, hoje, 14 túneis, 30 pontes e vários
viadutos de grande vão, estando o ponto mais elevado da linha a 955 m acima do
nível do mar. Ao trecho pioneiro da ferrovia juntaram-se outras interligações
que possibilitaram o progresso dos atuais estados do Paraná e Santa Catarina.
Em 1884, concluiu-se a Estrada de Ferro Dona Teresa
Cristina, pioneira na Província de Santa Catarina, com a extensão de 112 km,
originária de uma concessão obtida pelo Visconde de Barbacena, com o objetivo
de trazer o carvão de pedra das minas para o Porto de Imbituba.
AS FERROVIAS EM SÃO PAULO
É importante salientar que em São Paulo, as estradas de
ferro foram decorrência natural das exportações agrícolas. Pode-se afirmar que
existe uma relação natural entre a expansão da produção cafeeira do Vale do
Paraíba e a construção de estradas de ferro naquela região. A construção de
ferrovias em São Paulo, iniciou-se após a primeira metade do século XIX,
formando verdadeira rede de captação do café em direção ao Porto de Santos. De
1867 até a década de 1930 existiam 18 ferrovias, sendo que, deste total, metade,
com extensões inferiores a 100 km, serviam de ramais de captação de cargas para
as grandes e médias companhias, a saber:
Estrada de Ferro Sorocabana – com 2.074 km;
Companhia Mogiana de Estradas de Ferro – 1.954 km;
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – 1.539km;
Companhia Paulista de Estradas de Ferro – 1.536 km;
Estrada de Ferro Araraquara – com 379 km;
São Paulo Railway – com 246 km, que até a década de 1930,
consistia na única ligação ferroviária do planalto paulista com o Porto de
Santos.
OUTRAS FERROVIAS REGIONAIS
Em 17 de novembro de 1903, foi assinado o Tratado de
Petrópolis, entre o Brasil e a Bolívia, pelo qual coube ao Brasil a obrigação
de construir a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré para compensar a cessão, pela
Bolívia, da área do atual Estado do Acre.
A função da ferrovia era permitir o transporte em trecho
terrestre paralelo às corredeiras do Rio Madeira, as quais impediam a
continuidade da navegação, utilizada para escoar o látex de borracha, produzido
na região norte da Bolívia. O traçado da ferrovia com 344 km de linha,
concluída em 1912, ligava Porto Velho a Guajará-Mirim, margeando os rios
Madeira e Mamoré. Sua construção foi uma epopéia face às dificuldades
encontradas na selva, pelos técnicos e trabalhadores, milhares deles dizimados
pela malária e febre amarela.
Outro destaque merece ser dado à construção da Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil, citada anteriormente, iniciada em 16 de julho de
1905, que atingiu Porto Esperança em 1914. Partindo de Bauru, esta ferrovia
atravessava São Paulo e o atual Estado de Mato Grosso do Sul, chegando, até
Corumbá na fronteira com a Bolívia, com a construção da ponte ferroviária sobre
o Rio Paraguai, em 1947.
No Nordeste do país, salientam-se dois grandes
empreendimentos ferroviários: a construção das estradas de ferro Recife ao São
Francisco, anteriormente citada, e Salvador ao São Francisco, posteriormente
interligadas e que passaram a integrar a malha ferroviária desta região, tendo
como uma de suas finalidades o escoamento da produção da indústria canavieira e
dos produtos manufaturados importados.
No Rio Grande do Sul, construiu-se a primeira via férrea,
por Lei Provincial de 1867, que autorizava o Governo a abrir concorrência para
concessão de uma estrada de ferro entre Porto Alegre e São Leopoldo ou Novo
Hamburgo. A empresa concessionária foi autorizada a funcionar em 23 de novembro
de 1871, como Companhia Limitada Estradas de Ferro de Porto Alegre a Nova
Hamburgo. Em 14 de abril de 1874 foi inaugurada a seção de Porto Alegre a São
Leopoldo, com extensão de 33,75 km.
Em 1884, o país contava com 6.116 km, além de 1.650 km em
construção. Em dezembro de 1888 existiam 9.200 km em exploração e 9.000 km em
construção ou em estudo.
O SISTEMA FERROVIÁRIO NACIONAL
Em 1922, ao se celebrar o 1º Centenário da Independência do
Brasil, existia no país um sistema ferroviário com, aproximadamente, 29.000 km
de extensão, cerca de 2.000 locomotivas a vapor e 30.000 vagões em tráfego.
Destacam-se alguns fatos relevantes para o sistema
ferroviário do país, ocorridos no período de 1922 a 1954, tais como:
Introdução da tração elétrica , em 1930, para substituir, em
determinados, trechos a tração a vapor;
Em 1939 ocorreu o início da substituição da tração a vapor
pela diesel elétrica. Este processo, interrompido durante a Segunda Guerra
Mundial, foi intensificado na década de 1950.
Em 1942 foi criada aCompanhia Vale do Rio Doce, que absorveu
a Estrada de Ferro Vitória a Minas (construída a partir de 1903). Esta ferrovia
foi então modernizada com o objetivo de suportar o tráfego pesado dos trens que
transportavam minério de ferro entre as jazidas de Itabira, em Minas Gerais, e
o Porto de Vitória, no Espírito Santo.
O Governo Vargas, no final da década de 1930, iniciou
processo de saneamento e reorganização das estradas de ferro e promoção de
investimentos, pela encampação de empresas estrangeiras e nacionais, inclusive
estaduais, que se encontravam em má situação financeira. Assim, foram
incorporadas ao patrimônio da União várias estradas de ferro, cuja
administração ficou a cargo da Inspetoria Federal de Estradas – IFE, órgão do
Ministério da Viação e Obras Públicas, encarregado de gerir as ferrovias e
rodovias federais.
Esta Inspetoria deu origem, posteriormente, ao Departamento
Nacional de Estradas de Rodagem – DNER e Departamento Nacional de Estradas de
Ferro - DNEF, sendo este último, criado pelo Decreto Lei n.º 3.155, de 28 de
março de 1941. O DNEF foi extinto em dezembro de 1974 e suas funções foram
transferidas para a Secretaria-Geral do Ministério dos Transportes e parte para
a Rede Ferroviária Federal S.A. – RFFSA.
Dentre os objetivos da encampação das estradas de ferro pela
União podem-se destacar: evitar a brusca interrupção do tráfego, prevenir o
desemprego, propiciar a melhoria operacional, objetivando a reorganização
administrativa e a recuperação de linhas e material rodante.
A REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S.A. – RFFSA
No início da década de 1950, o Governo Federal, com base em
amplos estudos decidiu pela unificação administrativa das 18 estradas de ferro
pertencentes à União, que totalizavam 37.000 km de linhas espalhadas pelo país.
Em 16 de março de 1957 foi criada pela Lei n.º 3.115 a
sociedade anônima Rede Ferroviária Federal S.A. - RFFSA, com a finalidade de
administrar, explorar, conservar, reequipar, ampliar e melhorar o tráfego das
estradas de ferro da União a ela incorporadas, cujos trilhos atravessavam o
País, servindo as regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul.
Em 1969, as ferrovias que compunham a RFFSA foram agrupadas
em quatro sistemas regionais:
Sistema Regional Nordeste, com sede em Recife;
Sistema Regional Centro, com sede no Rio de Janeiro;
Sistema Regional Centro-Sul, com sede em São Paulo; e
Sistema Regional Sul, com sede em Porto Alegre.
No ano de 1976 foram criadas pela RFFSA as Superintendências
Regionais – SRs, em número de 10, posteriormente ampliado para 12, com
atividades orientadas e coordenadas por uma Administração Geral, sediada no Rio
de Janeiro.
A CRIAÇÃO DA FEPASA
Cabe mencionar que, em novembro de 1971, pela Lei n.º
10.410/SP, o Governo do Estado de São Paulo, decidiu unificar em uma só
empresa, as cinco estradas de ferro de sua propriedade. Naquela época,
pertenciam ao Estado a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, Estrada de
Ferro Sorocabana, Estradas de Ferro Araraquara, Companhia Mogiana de Estrada de
Ferro e Estrada de Ferro São Paulo-Minas. Assim, em decorrência dessa junção,
foi criada a FEPASA – Ferrovia Paulista S.A., para gerir, aproximadamente,
5.000 km de vias férreas.
O PROCESSO DE DESESTATIZAÇÃO
De 1980 a 1992, os sistemas ferroviários pertencentes à Rede
Ferroviária Federal S.A. – RFFSA e à FEPASA – Ferrovia Paulista S.A., foram
afetados de forma dramática, quando os investimentos reduziram-se
substancialmente, atingindo, na RFFSA em 1989, apenas 19% do valor aplicado na
década de 1980. Em 1984, a RFFSA, encontrava-se impossibilitada de gerar
recursos suficientes à cobertura dos serviços da dívida contraída. A empresa
suportava sério desequilíbrio técnico-operacional, decorrente da degradação da
infra e da super estrutura dos seus principais segmentos de bitola métrica e da
postergação da manutenção de material rodante, que ocasionaram expressiva perda
de mercado para o modal rodoviário.
Medida de ajustamento institucional foi tomada pelo Governo
Federal, com o afastamento da RFFSA dos transportes urbanos. O Decreto n.º
89.396, de 22/02/84, constituiu a Companhia Brasileira de Transporte Urbano –
CBTU que ficou responsável pela prestação daqueles serviços. Note-se que estes,
na maioria dos casos, são altamente deficitários.
Na impossibilidade de gerar os recursos necessários para
continuar financiando os investimentos, o Governo Federal colocou em prática
ações voltadas à concessão de serviços públicos de transporte de carga à
iniciativa privada.
Foi editada a Lei n.º 8.031/90 e suas alterações
posteriores, que instituíram o Programa Nacional de Desestatização – PND, sendo
a RFFSA incluída no referido Programa, em 10/03/92, por meio do Decreto n.º
473. Neste processo atuou como gestor o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social - BNDES que, nos termos do Decreto n.º 1.024/94, elaborou a
forma e as condições gerais para concessão das malhas da RFFSA.
O processo de desestatização da RFFSA, foi realizado com
base na Lei n.º 8.987/95, (Lei das Concessões). Esta lei estabeleceu os
direitos e obrigações para as partes envolvidas no processo de concessão,
definindo ainda, o princípio da manutenção do equilíbrio econômico e financeiro
e os direitos dos usuários. O processo obedeceu a seguinte cronologia:
A desestatização das malhas da RFFSA
Malhas Regionais
|
Data do Leilão
|
Concessionárias
|
Início da Operação
|
Extensão (Km)
|
Oeste
|
05.03.1996
|
Ferrovia Novoeste S.A.
|
01.07.1996
|
1.621
|
Centro-Leste
|
14.06.1996
|
Ferrovia Centro-Atlântica S.A.
|
01.09.1996
|
7.080
|
Sudeste
|
20.09.1996
|
MRS Logística S.A.
|
01.12.1996
|
1.674
|
Tereza Cristina
|
22.11.1996
|
Ferrovia Tereza Cristina S.A.
|
01.02.1997
|
164
|
Nordeste
|
18.07.1997
|
Cia. Ferroviária do Nordeste
|
01.01.1998
|
4.534
|
Sul
|
13.12.1998
|
Ferrovia Sul-Atlântico S.A. – atualmente – ALL-América
Latina Logística S/A
|
01.03.1997
|
6.586
|
Paulista
|
10.11.1998
|
Ferrovias Bandeirantes S.A.
|
01.01.1999
|
4.236
|
Total
|
25.895
|
Fonte: RFFSA e BNDES.
Com o leilão da Malha Paulista (antiga FEPASA incorporada à
RFFSA pelo Decreto n. o 2.502, em 18/02/98), concluiu-se o processo de
desestatização das malhas da RFFSA.
O Governo Federal outorgou, em 28/06/97, à Companhia Vale do
Rio Doce, no processo de sua privatização, a exploração da Estrada de Ferro
Vitória a Minas e Estrada de Ferro Carajás.
Em 7 de dezembro de 1999, o Governo Federal, com base na
Resolução n.º 12, de 11 de novembro de 1999 do Conselho Nacional de
Desestatização e por intermédio do Decreto n. 3.277, dissolve, liquida e
extingue a Rede Ferroviária Federal S.A. - RFFSA.
Com essas informações apresentadas de forma abreviada,
relataram-se os fatos mais importantes da história ferroviária brasileira,
desde as primeiras iniciativas do Governo Imperial, no século XIX, até os dias
atuais, ressalvando-se que se ocorreu alguma omissão deveu-se à limitação do
tempo disponível para sua exposição.
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